segunda-feira, 5 de dezembro de 2011



nessa altura do ano

costumávamos passear com os nossos vestidos brancos durante o dia

depois o sol punha-se
recolhíamos a casa
e fechávamos a porta

matávamos os bichos em silêncio e queimávamos as ervas

no ritual decidíamos as preces interditas

o ar povoava-se dos cheiros estranhos
que o sagrado negava

e eu, já despida
pegava no vestido branco do dia
e imprimia-lhe as pegadas da ave ensanguentada

depois recolhia aos lençois
e aguardava que a prece funcionasse

o destino ditar-se-ia conforme o cantar do galo pela manhã

se a canção permitisse... daí a uns dias teria cabelos negros para afagar
e uma cova a mais no colchão de feno

se a canção permitisse... estaria prenha daí a uns meses...




nunca mais precisaria de matar as galinhas
nunca mais precisaria de lhes arrancar o coração
em função do meu...