segunda-feira, 5 de dezembro de 2011



nessa altura do ano

costumávamos passear com os nossos vestidos brancos durante o dia

depois o sol punha-se
recolhíamos a casa
e fechávamos a porta

matávamos os bichos em silêncio e queimávamos as ervas

no ritual decidíamos as preces interditas

o ar povoava-se dos cheiros estranhos
que o sagrado negava

e eu, já despida
pegava no vestido branco do dia
e imprimia-lhe as pegadas da ave ensanguentada

depois recolhia aos lençois
e aguardava que a prece funcionasse

o destino ditar-se-ia conforme o cantar do galo pela manhã

se a canção permitisse... daí a uns dias teria cabelos negros para afagar
e uma cova a mais no colchão de feno

se a canção permitisse... estaria prenha daí a uns meses...




nunca mais precisaria de matar as galinhas
nunca mais precisaria de lhes arrancar o coração
em função do meu...

domingo, 17 de julho de 2011

que fuga pode haver para quem não esquece?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

precisava de um homem com uma vagina grande
onde coubessem os meus tomates

domingo, 1 de maio de 2011


o meu sexo é do tamanho dos meus sonhos mais fundos
penetra e é penetrado pelo desejo
melodia intacta com sede de orquestra insana
onde poder tocar






(foto: esther ferrer)

sábado, 9 de abril de 2011


qualquer mancha que nos invada as entranhas
terá sempre
até à morte
a mesma cor











(foto: inês d'orey
in, 'o veneno cura' de raquel freire)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

enquanto se enganava
escrevendo linhas brancas para logo as apagar
(sorvendo-as)
lembro-me de como me dava água limpa em copos de cristal
bebendo ele o vinho imposto, como se definição sua

(assim poderia manter uma imagem premeditada ao invés do espelho)




disse-lhe à saída da orgia
que me dando o copo, eu quereria o jarro
que me dando o jarro, estaria já vazio

ele não tinha reparado nisso






de quantas pedras se pode compôr um leito seco?




(foto: irina werning)
poder-se-ia dizer que a culpa era dos cadáveres na rua
que alguém os tinha atirado da janela
que era pena não terem asas para voar evitando a queda

mas digo-vos assim numa espécie de segredo
não pode haver veredicto se não houver terra para o sepultar

quem disse que não se podem enterrar corpos no quintal?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

eu tinha falado a muita gente da minha aflição pelos pássaros
de como me irritavam os seus ruídos
o arrolhar nas ramagens
de como dava em doida quando queria dormir de dia

e à noite voltavam eles na penumbra
as sombras que assomavam na janela
os ruidos das pequenas crias no ninhos

foram muitos dias sem dormir
muitas noites de insónia
até que me decidi:

iria esventrá-los a todos
esventrar pássaros disse ela: dito na terceira pessoa já nada teria a ver comigo.